Retomando os Trabalhos

É muito tempo sem dar as caras por aqui, é verdade. O Blog (não só ele mas outros setores do Café Irlanda) andou bem parado ultimamente. Depois da session com os Bangs e o show no Calabouço, muita, muita coisa aconteceu. Aliás acho que o show no Calabouço veio como um símbolo do que estava por vir, e que levamos adiante agora.

Na semana passada, fizemos dois shows. O último foi na quinta passada, no bom e velho Irish Pub da Lapa. Por um descuido nosso, tocamos acústico. Por um lado, foi muito bom, porque sentimos pela concentração do público e pelos pedidos de silêncio que todas aquelas pessoas, ao contrário das outras vezes, foram até lá exclusivamente para nos prestigiar. O lado ruim é que provavelmente aquela foi uma das nossas maiores platéias, e por vezes arranjos muito bons nossos ficaram inaudíveis. Como não acontecia a tempos, arrebentei uma das cordas do meu bandolim e tive que trocá-la às pressas no intervalo, com a neura da afinação na cabeça. Acho que estou ficando muito perfeccionista, fiquei bastante nervoso com alguns detalhes, mas relaxei ao ver a resposta do público. Foi muito feliz, para mim, ver alguns dos nossos bons e velhos companheiros de estrada, e alguns novos, que conquistamos pelo caminho. Comentário especial para o Carlos "Drinking Songs" Eduardo, que conhecemos altamente alcoolizado em Ipanema no St. Patrick's Day, que compareceu na Lapa foi condecorado pelo clã Café Irlanda com o título: Café Irlanda's Craziest Fan! Mais uma vez, contamos com a presença do Uilleann piper Alex Navar, que não víamos a muito tempo, sendo nosso reencontro no espetáculo Celtic Legends, sobre o qual falarei mais tarde.

O show que fizemos na mesma semana aconteceu no Sábado, em minha querida cidade natal, Niterói. A festa aconteceu no São Dom Dom, tradicional bar musical e alternativo que fica na praça da Cantareira, em São Domingos. Eu e o Daniel temos uma estreita relação com essa praça, que frequento a anos e é o berço da boa e velha boemia universitária, estando de frente para o campus da UFF e da Maria Thereza. Já havíamos tocado no São Dom Dom lá nos nossos primórdios, na forma de uma magra canja que durou cerca de vinte minutos. Fomos bem recebidos naquela época, mas por somente ter disponível para nós a quarta-feira, deixamos um pouco de lado esta história. Até que, uma semana antes do nosso show, eis que eu saia da boa e velha República das amigas Thaise, Elisa e Nicolle, em direção à minha casa, quando escuto uma sonzeira vindo do São Dom Dom, que fica no caminho do meu ponto de ônibus. Eis que reconheço várias figuras na platéia, e quando vou cumprimentá-las, percebo que também reconheço várias figuras na banda também! Eis que a apresentação em questão é do Facção Caipira! O Facção Caipira é uma banda de blues e rock da cidade de Niterói que tem na bateria meu velho camarada Tieê Ortlieb, e no baixo o velho Vinícius Câmara, dois camaradas já de longa data. Ao entrar mais um pouco no recinto, eis que uma mesa cheia de amigos que não vejo a meses me saúda com grande entusiasmo, e erguem-me copos de cerveja! Como resistir ao néctar sagrado? Resignei-me, e liguei para casa avisando que não ia voltar para lá tão cedo... E não voltei mesmo. Fiquei lá e constatei, com surpresa, que a banda era de grande qualidade, e admiti perante meus camaradas que havia subestimado outrora o som do Facção. Como era sábado e pela manhã eu havia frequentado mais uma aula da Escola Portátil de Música, tinha o bandolim (aka. Cavaco Redondo) em mãos e também meu cabo elétrico. Ao vê-lo, meus camaradas pediram que eu desse uma canja, e cara-de-pau como sou, não fiz diferente. Pluguei meu instrumento à mesa de som e constatei, junto com o público, que bandolim também sola um blues do bom! Foi uma noite memorável, de fato. Tão memorável que acredito ter chamado a atenção de uma figura especial que passou a figurar na nossa história. A um bom tempo, posso considerar-me amigo de um sujeito beberrão e tampinha que atende pelo nome de Rafael Jevoux, nome conhecido em todos os pés-sujos e casas-de-tia-ciata da boemia niteroiense. Recentemente, passou a trabalhar, junto com outros amigos, no São Dom Dom aos sábados. Lá, apresentou-me a responsável pelo bar aos sábados, ninguém menos que sua própria mãe: Mara Maciel.

A história com a Mara é engraçada. Ele já nos havia apresentado na cantareira tempos atrás, quando o Café Irlanda era ainda embrionário e engatinhava a passos lentos. Falou-me de sua carreira de produtora e outras coisas, muitas coisas, mas há um porém: estava tão completamente embriagado que não me lembro de nada do que foi conversado... Ao indagar o Jevoux, depois, sobre o papo: disse-me: "E eu sei lá o que vocês estavam conversando! Eu tava mais bêbado que você!". Fiquei constrangido e com medo de ter queimado minha chance, mas felizmente, descobri que a Mara também estava ligeiramente alcoolizada na ocasião e ficou tudo bem. Depois do show do Facção Caipira, perguntei-lhe se havia chance de tocarmos em algum sábado no São Dom Dom. A conversa teve bons frutos, e não deu outra: No sábado seguinte, era a vez do Café Irlanda apresentar-se no recinto. Tivemos um grande público, inclusive com presença dos meus pais, dos meus irmãos e da Fernanda, minha namorada, que apesar de ser surda (surda mesmo, inclusive é professora de Língua Brasileira de Sinais) prestigia a todos os meus shows desde que começamos. Meu pai, aliás, acabou entrando bem no clima Café Irlanda e ficamos os dois bêbados! Também nos prestigiaram Lotta e Ana, o casal lésbico mais fofo do mundo, amigas e hóspedes da República, diretamente da fria Suécia (foi aí que a minha mente deu um nó: na mesma mesa, revezava português com a minha família, inglês com as suecas e língua de sinais com a minha namorada...!). Incontáveis foram os amigos e camaradas niteroienses que prestigiaram o evento, além das boa se velhas figuras que sempre nos prestigiam. Obrigado, Cafezetes e Cafetões!

O show foi épico. Assim como o show no Irish Pub da Lapa.

Um evento importante que é digno de nota, já citado brevemente antes, foi o show do Celtic Legends, que ocorreu no Canecão dia 16 de Abril. O Celtic Legends é um espetáculo de música e sapateado originário da Connemara, Irlanda, ao mesmo estilo do Riverdance e Lord of the Dance (a diretora musical do Celtic Legends é a mesma do Riverdance e do Cherish the Ladies, uma fiddler virtuose chamada Liz Knowles). Formação musical: Irish Flute, Uilleann Pipes (+ Tin Whistle), Fiddle, Melodeon, e Violão (+ voz). Foi uma oportunidade rara para ver em ação, ao vivo, uma banda irlandesa tocando tunes tradicionais. Apenas reconhecemos duas tunes, Geese in the Bog (que não gosto) e Fermoy Lasses, que faz parte do nosso repertório no Killer Set. Aliás, o Celtic Legends faz um arranjo absurdo dessa última música, que tentamos copiar - sem sucesso. Muito ansiosos pelo espetáculo, e nada satisfeitos com nossos assentos em lugar extremamente mal-posicionado (porém muito mais baratos), ficamos de pé em um corredor de frente para o palco, e dançamos loucamente, não raro dando nossos gritos de guerra, comuns na música irlandesa. Uma nada gentil senhora usando blusa de seda, sentada em uma das mesas da frente a degustar um champagne, não parava de nos desferir olhares mortais e comentários mordazes, mas sinceramente cagamos baldes e desejamos com todo o carinho que ela fosse dar uma voltinha lá na puta que a pariu! O show foi de grande qualidade, e uma das músicas foi inclusive dedicada no palco ao nosso parceiro Alex Navar, que lá se encontrava! A parte dançante do espetáculo foi genial, mas pessoalmente nem prestei muita atenção nisso, pois meu olhar atento captava cada segundo, cada compasso, cada nota que os músicos emitiam. A fiddler tocava com tanta vontade que arrebentou a crina do arco do violino...! Seu olhar mortal para a mesa de som quando este falhou durante o seu solo fez gelar até os pentelhos, e por um momento achei que como uma Fianna enlouquecida ela se jogaria sobre os técnicos ferindo de morte a todos que encontrasse pelo caminho. Depois do espetáculo, tivemos a oportunidade de ir ao backstage e conversar com os músicos! O sujeito da Uilleann pipes já havia dado, antes do show, uma verdadeira aula de gaita para o Alex Navar (que registrou tudo), e então foi nossa vez. Durante o show, vi que a tin whistle tocada pelo gaiteiro parecia da marca norte-americana Susato do tipo Kildare, igual à usada pelo Daniel Sinivirta. Durante o show, cheguei a comentar com ele, que não acreditou que aquela flauta fosse igual à dele, por ter um som muito mais elaborado. Ele chegou a comentar: "Existem 3 opções: ou aquilo não é uma susato, ou ele fez um tweak bizarro (tweak em tin whistles: técnica de implantação de massa na cavidade da flauta para melhorar o som), ou ele que é bizarramente foda mesmo." E calhou que nosso desventurado amigo acertou na terceira opção. Daniel tirou da mochila a própria flauta e deu para o sujeito, que tocou de tal jeito a tirar notas que Daniel nem sabia que eram possíveis naquela flauta! E o sujeito nem sabia o que era tweak!! Tenso. Esses irlandeses não devem ter mais o que fazer e ficam tocando isso o dia inteiro, não é possível!

Novidades: Tocaremos no festival Oenach na Talitiu, evento celta/medieval/pagão, em Niterói!

Dia: 17 de julho

Hora: 11:30 - 20:30
Local: Chácara ZAP - Estrada Frei Orlando Nº2.000 – Piratininga/Jacaré, Niterói-RJ. Todas as informações, com detalhes, do evento e de como chegar estão no site linkado acima. Caracterização/fantasia medieval requerida.

Demais shows e festivais a serem confirmados. Divulgação na comunidade do Orkut e pelo Twitter.

Grande abraço!

Caio Gregory